quinta-feira, 5 de junho de 2008

Privatizar os lucros e socializar as perdas.

Mito de Prometeu (no contexto atual): antes acorrentado pelos deuses por ensinar aos homens o uso do mercado, mas agora livre para propagar cada vez mais os segredos do mercado...Ou não.
Não é irônico que a possibilidade de intervenção por parte do governo norte-americano seja cogitada, após uma longa ditadura do discurso que defendia a total liberdade e auto-regulação dos mercados?
A ironia esta contida no simples fato de que as oligarquias financeiras, que é uma nova camada da burguesia, que foi formada pelo capital financeiro, não poder nem ouvir falar em qualquer tipo de intervenção governamental durante a década de 1990, que rapidamente já fazia uso de seus parceiros no governo e na mídia para conter qualquer tentativa nesse sentido. Isso talvez meus amigos porque a partir de meados da década passada com as crises mexicana, asiática e brasileira aconteceu uma aceleração da economia norte-americana, que deu a essa oligarquia lucros tão fabulosos, que nem tio patinhas poderia imaginar. Agora os oligarcas dos lucros estão às portas da Casa Branca com seus mega-fones entoando em coro, Intervenção já, irônico não é!
Podemos dizer que o discurso do mercado é assim. Por tempos, diz ao governo deixe-me sozinho, porque quer ousar tacadas arriscadas. Quando há algo de errado pede uma tábua de salvação. E isso, é o que aconteceu com o mercado norte-americano antes da crise deflagrada com a expansão desordenada do credito americano, o mercado financeiro deitou e rolou. Criou dezenas de títulos malucos, de maneira irresponsável, enfiados nos fundos de investimentos mundo afora. Todos se fingiram de mortos: dos bancos centrais às agências de classificação de riscos. Agora, estão todos atrás do barco salva-vidas, ou talvez um termo mais apropriado salva-lucros. Definitivamente, estamos diante do paradoxo de privatizar os ganhos e socializar as perdas. E ainda existem pessoas que dizem que as oligarquias financeiras não gostam da teoria socialista de Karl Marx!
Com desculpas antecipadas a João Cabral de Melo Neto, de quem peguei o corpo do texto, sem pedir... Confesso. Deixarei com os amigos um pequeno pensamento: “O meu nome é Mercado, como não tenho outro de pia. Como há muitos Mercados, que é santo de Smith, deram então de me chamar Mercado de Financeira como há muitos Mercados com mães chamadas Financeira, fiquei sendo o da Financeira do finado Neoliberalismo”.

Igreja Católica: tentativas para conter a aprovação da lei do divorcio no Brasil

Desde a implantação do regime republicano a sociedade brasileira vem discutindo a possibilidade de se implantar o divórcio no país. Contudo, a partir de meados do século XX os debates ganharam mais espaço, até que 1977 a lei foi aprovada.

A lei do divórcio diz respeito à forma como uma sociedade historicamente determina institui uma norma jurídica para regular uma das instituições mais duradouras dos países que seguem o cristianismo, principalmente, o de Roma. Neste caso, estamos tratando sobre princípios e postulados que regulam os termos da vivência social nas múltiplas relações existentes entre indivíduos e grupos sociais.

Nesse texto analisaremos a participação da Igreja Católica enquanto uma instituição que tentou de varias formas conter os movimentos que tentavam aprovar a lei do divorcio no Brasil. Poderemos notar a força que o discurso dessa instituição tinha no período e os artifícios de que ela se utilizou para tentar conter a evolução social nesse caso vinculada a aprovação de uma lei. Teremos que levar em conta que o nosso pais já estava totalmente secularizado, e que isso não implica o rompimento total quando da formulação de nosso Código Civil de leis que estavam ligadas a religião. Notaremos no discurso de juristas, deputados e senadores cargas religiosas com grande relevância. E não poderemos deixar de notar como a igreja se preocupa com a família.

Segundo Foucault: “em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social...”[1]. Podemos dizer então, que o poder está disseminado pelo corpo social vindo de variados lugares, e tendo destinos distintos e chegando assim na família. Para António Manuel Hespanha: “a imagem da família e do mundo doméstico está presente por todo o lado no discurso social e político da sociedade...”[2]. Notamos então que tratar da família é tratar de Estado, da política e da economia, logo, legislar sobre os assuntos familiares, trata-se de entender o funcionamento daquela que é vista como “a primeira comunidade”. Neste caso, estamos nos referindo a uma lei que diz respeito ao governo da casa”[3], e sendo a família o fundamento da república, o regime (ou governo) da casa é também o fundamento do regime da cidade”[4]. Então, baseando-me na passagem acima, posso afirmar que legislar sobre a família é regular um dos aspectos da vivência social. Nas palavras de Hespanha a expansão familiar não parou no Estado:

“zona de expansão do modelo doméstico é também o domínio das relações internas à comunidade eclesiástica (...) a Igreja é concebida como uma grande família, dirigida por um pai espiritual [Cristo ou o seu vigário, o Papa]...”[5].

Com a passagem acima podemos entender melhor a luta católica pela indissolubilidade do casamento, porque tirar o poder do pai sobre a família seria como quebrar a hierarquia de Cristo dentro da Igreja. Assim podemos voltar a Hespanha: “tudo isto é bastante para mostrar o papel central que, na imaginação das relações políticas, é desempenhado pelo modelo da família. Modelo que, por outro lado, obedece a uma impecável lógica estruturante, fundada em cenários de compreensão do relacionamento humano...”[6]. Notamos que a Igreja lutaria muito pela indissolubilidade, pois essa garantia de certa forma a hierarquia dentro da própria Igreja.

Podemos agora mostrar como se deu esse debate no campo político. O senador Nelson Carneiro, apesar de ser católico, começou a sua luta em favor da implantação da lei do divórcio no país. Em 1947 apresentou projeto assegurando o direito de pensão à companheira, sendo aprovado cinco anos mais tarde. Em 1949, conseguiu a aprovação de um projeto que possibilitava o reconhecimento de filhos fora do casamento, chamados então de filhos adulterinos. Para aprovar essa lei teve ajuda de Arruda Câmara – padre que sacrificou a carreira eclesiástica para lutar no Parlamento –, grande opositor da aprovação do divórcio, inicialmente apresentada por Nelson Carneiro em 1951. Segundo palavras do próprio Senador: “estivemos sempre juntos nos debates, ainda que geralmente em pólos opostos. Para impugnar meus projetos, especializou-se em Direito de Família, fez-se membro da comissão de constituição e justiça”[7]. Sem duvida Arruda Câmara foi o grande agente da Igreja no Parlamento, e sempre esteve presente em seu discurso uma passagem da Bíblia que para ele e para os católicos tem muito significado, Mateus, 19: “Assim, já não são dois, mais uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”. Outra obsessão de Câmara era as diretrizes apontadas no Concilio de Trento.

Nelson Carneiro e Câmara fizeram um duelo que durou mais de duas décadas. Esse duelo foi marcado por posições irredutíveis de ambos os lados, de ideologias diferentes quanto a responsabilidade pelo casamento ficar a cargo do Estado ou da Igreja.

Agora tentaremos mostrar como as considerações da Igreja em relação ao assunto apareceram no discurso jurídico nesse período. Como já afirmamos iremos perceber vários juristas colocados ao lado da igreja e de suas afirmações e um deles foi o ministro do Supremo Tribunal Federal Hahnemnn Guimarães que em 1947 escreveu as seguintes palavras na Revista Forense: “o casamento era um mistério, com que, segundo palavras sacramentais, se encontrava o bem, evitando-se o mal, isto é, tudo aquilo que passa. Como em todos os mistérios, bem é o eterno atingido no casamento pela imortalidade da espécie”[8]. Nas palavras acima já notamos uma carga religiosa e a finalidade do matrimônio para a Igreja, que é a perpetuação da espécie, e os filhos do matrimônio devem ser educados tanto pelo homem quanto pela mulher, “se o amor da mãe é muito intenso na intimidade da infância é o pai que ao longo de toda a vida proporciona os exemplos de conduta”[9]. Assim se houver a dissolução do vínculo matrimonial a educação dos filhos ficaria comprometida, segundo os ensinamentos da Igreja.

Hahnemann Guimarães ainda diz que “a revolução burguesa, abrindo caminho para os excessos do individualismo, tinha de se bater pelo divórcio (...) e com o individualismo, espalhou-se o divórcio e ameaça conquistar a minoria dos Estados que ainda não o admitem”[10]. A sociedade burguesa, com a lei civil, pressupõe que o casamento tornou-se um contrato, logo, rompe com a idéia de casamento como sacramento. Se é um contrato, pois você vai a um cartório se casar, parte-se do pressuposto que pode haver um distrato, ou seja, o divórcio. No entanto a igreja e seus agentes não abriram mão do matrimônio como sacramento e isso levou no Brasil a que muitas pessoas se casassem só no religioso.

Por fim em seu texto Hahnemann afirma que “só a família baseada na união conjugal indissolúvel pode formar homens capazes de afeições generosas, e estas são o caminho único para a desejada concórdia humana (...) defendendo o princípio da indissolubilidade do casamento, estamos continuando a marcha que nos há de levar a um mundo melhor”[11]. Podemos notar nas palavras do ministro, que ele acreditava que apenas com a indissolubilidade do vinculo matrimonial o nosso país poderia um dia ser pacificado, e marchar para ser um lugar melhor para se viver, aqui temos uma concepção de que o divórcio levaria a sociedade ao caos e a desordem porque poria fim à base social que seria a família unida pela indissolubilidade.

Em 1959 o livre-docente da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil Ebert Chamoun fazia algumas considerações sobre a natureza jurídica do matrimônio: “o matrimônio é o revestimento jurídico de uma união natural (...) os fatores que intervieram na criação do matrimônio, em todas as épocas, foram, com efeito, de duas ordens: o de ordem biológica e o de ordem social. O fator biológico é evidentemente o instinto sexual (...) O fator social ou gregário defini-se pela necessidade incontida que sente o homem de viver sempre à sombra do seu semelhante...”[12].

Ebert Chamoun afirma que a união entre pessoas e um fator natural assim a necessidade jurídica da sociedade transformou no instituto do matrimônio, partindo dessa afirmação podemos dizer que um costume que era a união entre as pessoas se transformou em uma regra de direito o caminho que Marx afirmava ser o normal quanto ao regimento social. O livre-docente ainda diz serem dois fatores fundamentais para a criação do matrimônio: o sexual e o social, pensando assim ele quer dizer que o matrimônio é realizado para se obter liberdade sexual e que as pessoas se unem porque não conseguem viver sozinhas, no entanto podemos afirmar que não é necessário o casamento para a realização do ato sexual e que uma pessoa pode estar com a outra sem ter contraído matrimônio.

No decorrer de seu texto Ebert Chamoun definirá o que seria para ele a finalidade do matrimônio: “Finalmente, a procriação e educação da prole constituem o derradeiro escopo do matrimônio”[13]. Aqui percebemos uma clara carga religiosa no discurso do livre-docente, pois o que ele escreveu parece sair da boca de um clérigo defensor da indissolubilidade. Continuando em uma linha religiosa Ebert Chamoun faz a seguinte constatação “a primeira grande conseqüência jurídica da doutrina do matrimônio-sacramento é a indissolubilidade da união conjugal. A união entre Cristo e a Igreja é indissolúvel, logo a união conjugal que a representa, tem o mesmo caráter”[14]. Como já foi dito no anteriormente no texto a Igreja Católica estava se amparando nos juristas para segurar a evolução social.

Em um outro texto de 1959 Ebert Chamoun faz considerações quanto ao casamento enquanto contrato “Entre nós, já se batera contra a teoria do matrimônio-contrato Lafayette Rodrigues Pereira. “O casamento, atenta a sua natureza íntima”, escreve o civilista patrício, “não é um contrato, antes difere dele profundamente, em sua constituição, no seu modo de ser, na duração e alcance de seus efeitos. O casamento abrange a personalidade humana inteira; cria a família; funda a legitimidade dos filhos; dá nascimento e relações que só se extinguem com a morte: os direitos e obrigações que dele resultam trazem o cunho da necessidade e no que dizem respeito às pessoas, não podem ser alterados, modificados ou limitados pelo arbítrio dos cônjuges. Os contratos, ao contrário, têm por objeto atos individuais, temporários; interesses materiais, efêmeros e suscetíveis de apreciação monetária”. O casamento vai dessa forma alem de um simples contrato”[15].

Ebert Chamoun, apoiando-se nos pensamentos de Lafayette, tenta mostrar que o casamento não é um simples contrato, pensamento esse que é pregado pela igreja, no entanto o nosso código civil observa o casamento enquanto um contrato assinado pelas partes interessadas que até então não pode ser dissolvido. Podemos notar com os dois juristas citados o direcionamento que a Igreja realizou com seus membros para defenderem seus interesses no que diz respeito a indissolubilidade do vinculo.

Acredito que os autores que trabalhei nesse texto sejam suficientes para podermos mostrar alguns meios de que a Igreja Católica utilizou para tentar barrar a aprovação da lei do divorcio no Brasil.


[1] FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 6ª ed., Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986. p. 179

[2] HESPANHA, António Manuel. Carne de uma só carne: para uma compreensão dos fundamentos históricos-antropológicos da família moderna. Análise Social, vol. XXVIII 9123-124), Lisboa, 1993. p. 951

[3] Conforme HESPANHA, António Manuel. Op. Cit. p. 969

[4] Ibid. Op. Cit. p. 969

[5] Ibid. , p. 971

[6] Ibid. , p. 971

[7] CARNEIRO, Nelson. A luta pelo divórcio. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1973. p. 10

[8] GUIMARAES, Hahnemann. Sobre o divórcio. In: Revista Forense. Rio de Janeiro: vol. CXIII, setembro de 1947. p. 267

[9] HESPANHA, Antonio Manuel.Carne de uma só carne: para uma compreensão dos fundamentos históricos-antropológicos da família moderna. Análise Social, vol. XXVIII 9123-124, Lisboa, 1993. p. 956

[10] Conforme GUIMARAES, Hahnemann. Op. Cit. p. 268

[11] Ibid, p. 271

[12] CHAMOUN, Ebert. Natureza jurídica do matrimonio. In: Revista Forense. Rio de Janeiro: vol. 183, maio-junho de 1959. p. 30

[13] Ibid, p. 31

[14] Ibid, p. 39

[15] CHAMOUN, Ebert. Natureza jurídica do matrimonio. Revista Forense. Rio de Janeiro: vol. 184, julho-agosto de 1959. p. 43

Max Weber, religião e ciência.

Max Weber, sociólogo alemão falecido em 1918, foi um dos primeiros cientistas sociais importantes a levar em conta a importância da religião ou da mentalidade religiosa na configuração da economia política. O objetivo dele foi refutar a tese de Karl Marx, segundo a qual o capitalismo nascera somente da exploração do homem pelo homem.

Para Weber, o moderno sistema econômico teria sido impulsionado por uma mudança comportamental provocada pela Reforma Luterana do século 16. Ocasião quando dela emergiu a seita dos calvinistas com seu forte senso de predestinação e vocação para o trabalho.

Calvinismo e capitalismo

"Apenas acrescenta fatos a teu conhecimento (...)
Assim não estarás perdido ao deixar esse paraíso,
pois possuirás um paraíso muito maior dentro de ti,
uma felicidade muito maior"

John Milton, "Paraíso Perdido", 1665-7

Eram homens e mulheres probos. Fugiam com temor da bebida e do fausto. Tinham horror ao luxo. Até a culinária deles era insossa. Quase tudo muito cozido e sem gosto. Nada de pimentas ou aromas tentadores. Em geral, vestiam-se de preto e condenavam o teatro, as festas e demais diversões que consideravam uma concessão à luxúria. As mulheres deles, de aparência assexuada, mantinham a cara lavada e ficavam longe de um perfume ou de uma colônia.

Em questões de poupança chegavam quase à avareza. Em tudo procuravam-se contrapor-se ao liberalíssimo catolicismo romano dos tempos renascentistas, mais tolerante, senão permissivo, com as coisas boas da vida. Como compensação à sensaboria de sua vidas, promoveram a ética do trabalho como fonte da satisfação pessoal e a ele, ao trabalho e à profissão, se entregaram com energia sagrada. Eram os protestantes que, depois da revolução religiosa provocada por Lutero, mesmo separados em diversas seitas, encontram melhor abrigo no mundo germânico e anglo-saxão.

Coube a Max Weber numa obra famosa ("A ética protestante e o espírito do capitalismo", 1904-5), relacionar esse comportamento morigerado com a ascensão do capitalismo. Weber não aceitava as teses de Marx sobre a "acumulação primitiva" apresentadas no "O Capital", que denunciava a rapinagem e a espoliação dos camponeses medievais ingleses, as bases primeiras daquele modo de produção.

Para o sociólogo alemão devia-se, isto sim, era rastear-se o efeito do comportamento religioso, especialmente aquele advindo da Reforma de 1517. Nele encontrou as sementes do que denominou de o moderno "espírito do capitalismo". Não que Weber considerasse Lutero, Calvino, John Knox, e tantos outros lideres reformadores, como agentes do progresso ou tolerantes para com o lucro comercial. Muito pelo contrário. Teologicamente desejavam um retorno ao cristianismo primitivo, à prática das catacumbas, a uma vida completamente regulada pela religião e obediente a um monoteísmo fechado. Portanto estavam bem longe de celebrarem a busca do lucro, como muita gente acreditou.

Mas uma das pregações deles chamou a atenção do sociólogo: a condenação da vida monacal. Os protestantes consideravam-na um gesto egoísta. Enclausurar-se num mosteiro ou num convento e dedicar boa parte da sua existência às orações e rezas, parecia aos reformadores uma grave alienação que "afastava o homem das tarefas deste mundo." Propunham, no lugar disso, que cada um encontrasse uma vocação para o trabalho secular afim de estabelecer um vínculo firme e permanente com seu próximo, para que os princípios da solidariedade e fraternidade cristã não se reduzissem a conceitos vazios.

Os luteranos difundiram a expressão Beruf, entendida como algo bem mais do que seguir uma vocação, mas sim um plano de uma vida inteira. A alteração proposta por eles de abandonar-se a vida contemplativa trocando-a para o empenho vocacional teve efeitos duradouros nas estruturas sócio-econômicas que se seguiram. Foi ela - esta revolução ética - a principal responsável, segundo Weber, para o sucesso material dos países protestantes que, a partir do século XVII, colocaram-se na vanguarda do desenvolvimento ao engajarem toda a população no mundo produtivo e não mais o contemplativo. A Reforma e a Contra-Reforma

Enquanto a Igreja, transformando o Concilio de Trento, realizado ao longo do século 16, num fortim Contra-reformista, reagia enfatizando seu caráter anti-cientifico e inquisitorial, cujo ápice deu-se durante o julgamento de Galileu Galilei, realizado pelo Tribunal do Santo Ofício em Roma, em 1632, provocado uma cisão irreparável entre o Catolicismo e a Ciência, os protestantes, rivalizando-se em centenas de pequenas congregações adversárias, não conseguiam obstar a curiosidade dos investigadores. Ao contrário, muitas vezes as estimularam.

Em pouco tempo a Reforma não só desenhou na Europa um novo mapa religioso, cindindo a Cristandade entre católicos e protestantes, mas também separou os países cientificamente adiantados dos que ficaram mais atrasados. Ao longo dos anos, tão dramática revelou-se essa situação que o pensador espanhol Miguel de Unamuno, quando confrontado e questionado pela impressionante petrificação cientifica da Península Ibérica, toda ela católica, comparada com seus vizinhos europeus, exclamou irritado: "Deixem que eles que inventem!" A Reforma e da Contra-Reforma haviam traçado uma visível fronteira entre a disposição para o avanço científico e a indiferença para com ele.

O resultado disso hoje é que uma consulta à lista dos vencedores dos prêmios Nobel de física, de química e de medicina, indica que dos 394 prêmios concedidos, entre 1901-1992, 80, 9 % deles foram repartidos entre pesquisadores e doutores dos países de origem protestantes (EUA com 40,3%, Inglaterra com 16,2 % e Alemanha com 14,9%), cabendo aos católicos apenas 13,9% (sendo que a França, cujo estado separou-se da Igreja em 1789, responsável por 6% deles).

Esta prevenção à ciência do mundo católico é que explica porque recentemente, com o anuncio das experiências de clonagem animal feitas na Escócia, foram justamente países como a Itália, a Espanha, a Argentina e, pasmem, até a Bolívia, a ameaçarem com rigorosas penas de prisão àqueles que tentarem aventurarem-se em experimentos de clonagem, mesmo de animais. Não satisfeitos em terem perdido a corrida tecnológica, as nações católica parecem esforçar-se também por voluntariamente desertarem da revolução biogenética, revolução esta que irá dominar o mundo neste e no próximo século.

A queda do Liberalismo-Eric J. Hobsbawm

Hobsbawm vai iniciar o texto falando que o fato que mais chocou a Era da Catástrofe foi o colapso das instituições da civilização liberal, que havia sido baseada em valores como a desconfiança a ditadura, compromisso com um governo constitucional, liberdade de expressão etc. Esses valores haviam proporcionado progresso durante todo o século e estavam destinados a avançar mais, antes de 1914 era contestado apenas pela Igreja Católica e por outros poucos grupos.
As instituições da democracia liberal haviam avançado politicamente e o barbarismo ocorrido entre 1914-18 apenas apressou esse avanço, com exceção da Rússia todos os regimes que emergiram da Primeira Guerra eram basicamente parlamentarista representativos eleitos.
Porem Hobsbawm vai atentar que nos 23 anos que separam ao inicio da “Marcha para Roma” de Mussolini e o auge do sucesso do Eixo na II Guerra Mundial vê-se uma retirada acelerada das instituições políticas liberais. Nas Américas haviam poucos estados independentes não autoritários.
Pode-se dizer que durante o entreguerras houve no globo muitas movimentações às vezes para a direita e outras para a esquerda, rumo a regimes autoritários. O liberalismo fez uma retirada durante a Era das Catástrofes e esta se acelerou depois que Hitler se tornou chanceler.
O autor vai atentar para o fato que nesse período as ameaças as instituições liberais vinha apenas da direita, e que apenas entre 1945-1989 essa ameaça veio do comunismo, a URSS depois da ascensão de Stalin não podia nem queria espalhar o comunismo, então o perigo vinha exclusivamente da direita, e é importante lembrar que todas a forças que derrubaram os regimes liberais eram fascistas.Hobsbawm vai destacar os movimentos que segundo ele podem verdadeiramente ser chamados de fascistas. O primeiro deles seria o movimento que se deu na Itália, porem o autor vai destacar que sem o triunfo de Hitler o fascismo e a ascensão internacional da Alemanha o fascismo não teria se tornado um movimento geral e nem causado impacto fora da Europa. Houve movimentos fascistas também na Hungria, Romênia, Croácia dentro outros.
O movimento fascista compartilhava em todos os países do anticomunismo, antiliberalismo, e do nacionalismo, o racismo que é um elemento tão fundamental aparentemente esteve ausente no fascismo Italiano em seu principio.
A diferença fundamental, que o autor vai destacar, entre a direita fascista e a não fascista é que para a fascista era imprescindível a mobilização das massas.
O ódio aos judeus estava ligado ao fato deles representarem o compromisso com as idéias iluministas e a Revolução francesa que os haviam emancipados e os tornado cada vez mais visíveis eles eram o símbolo do capitalista/ financistas, do agitador revolucionário, da influencia dos intelectuais sem raízes, dos novos meios de comunicação e da competição então a antipatia aos judeus já era difusa no mundo ocidental.
Hobsbawm vai dizer que a ascensão da direita radical após a 1ª Guerra Mundial foi a resposta ao perigo da revolução social e do poder do operariado e sem essa ameaça não teria havido fascismo algum. Porem não pode subestimar o impacto da 1ªGM sobre uma importante camada de soldados e jovens nacionalistas e em grande parte a classe média e média baixa que tinha perdido a sua oportunidade de heroísmo, outro fator que não se pode esquecer é que a direita não respondeu ao bolchevismo como tal, mas há todos os movimentos que ameaçavam a ordem existente.
O anti-semitismo, anti-socialismo e anti-liberalismo já existia antes da 1ªGM porem a ultra direita não havia conseguido chegar ao poder, o que trouxe as condições para o triunfa da ultra direita foi o Estado Velho com os seus mecanismo dirigentes não mais funcionando, uma massa de cidadão desencantados, desorientados e descontentes, não mais sabendo a que ser leal, fortes movimentos socialistas e uma inclinação do ressentimento nacionalistas contra os tratados de Paz.
Hobsbawm vai atentar para o fato do fascismo ter trazido algumas grandes vantagens para o capital, primeiro eliminou e derrotou a revolução social, segundo eliminou o capital e outras limitações para os empresários, terceiro destruiu os movimentos trabalhistas e assegurou uma solução favorável da depressão para o capital.
Hobsbawm também vai falar que provavelmente o fascismo não teria significado muito para a história mundial se não fosse a grande depressão, a Itália sozinha não teria tido força para abalar o mundo.
Alcir Lenharo também atenta para esse fato e mostra que durante o período de 1924 quando a Alemanha começa a se recuperar economicamente o partido nazista perde força política, e quando da Grande depressão a sua representatividade ganha força, Hobsbawm vai dizer que a Grande depressão transformou Hitler de um fenômeno da periferia política no senhor potencial, e finalmente real do país.
Depois da Grande depressão se vê no mundo uma grande propagação de ditaduras de direita, tanto feita por alas conservadoras como por militares, o que mostra a queda do liberalismo.

Dois homens, em uma jornada fabulosa.

Os fatos que se seguem são totalmente ilustrativos.
Na penumbra de uma noite de inverno se nota a uma distancia relativamente grande duas pessoas, apenas porque ambas estão fumando, mas o que duas pessoas estão fazendo na rua sozinhas com a hora já avançada. Com muito espanto tentarei relatar aos leitores o que estava acontecendo.
Sem fazer nem um tipo de barulho me aproximei para ouvir o teor de tão sorrateira conversa, a primeira frase me deixou perplexo, um dos homens aparentando mais idade, com a barba por fazer, isso se um dia o fora, falou as seguintes palavras: “e então já esta pronto para discutir os testes feitos com a maquila que nos deu a chance de aplicas nossas teorias das maneiras que pretendíamos e onde fosse de nosso interesse”. Eu como historiador pensei logo, que maquina fabulosa, e logo depois pensei, como eu queria possuir uma dessas, mas como não possuía continuei ouvindo a conversa, que agora me parecia muito mais apreciável. O outro homem, aparentando jovialidade, prontamente disse: “os testes já são conclusivos e iniciarei tão importante discussão”. Cada vez ficava, mas instigado para saber o que eles haviam estudado, mas sabia que logo minha curiosidade seria acalentada.
O homem jovial então começou a falar a seu colega: “a maquina funcional perfeitamente, pude mudar as pessoas como se fossem pedras de um jogo de xadrez, fiz o que quis, e o que vou relatar agora foi rigorosamente o que aconteceu. Comecei meu trabalho na decadente Europa do século XIV, tirei dela todos os vícios do feudalismo, dei a paises como Inglaterra, França e Alemanha navios maravilhosos para que descobrissem o novo mundo e neles implementassem a maquinaria e grande industria. Até aqui tudo correu como eu esperava, eles colonizaram da maneira que eu pretendia, industrializando e fortalecendo todos os paises e depois libertando-os. Isso aconteceu em todo o globo, então passei para a próxima fase. Com todos os paises industrializados implantei o comercio global, você precisava ver como tudo funcionava perfeitamente. Cada pais produzia de acordo com as necessidade do mercado e vendia a bons preços e as pessoas eram felizes. Todos tinham bom salários, patrões e empregados viviam em plena harmonia. Então como havíamos combinado, na ultima etapa deixei de controlar as pessoas e passei a ser um simples observador. Aí você não pode acreditar no que aconteceu, algumas pessoas começaram a querer cada vez mais dinheiro, e para isso começaram a explorar outras reduzindo salários e deixando seus semelhantes viverem na miséria, sem nenhum direito a aproveitarem as maravilhas do mercado que eu criei, porque não possuía nem para comer, quem dirá para se divertir. E isso foi só piorando, depois vieram outros que eram mais gananciosos, e descobriram a especulação do capital para ganhar ainda mais dinheiro. Não deu outra meu amigo, se formou um grande abismo econômico entre as pessoas, o que levou a seguidos conflitos e ao fim. Até agora não consigo acreditar no que aconteceu, mas e os seus testes como foram”.
O senhor barbudo então começa suas considerações: “como no seu caso, colega, a maquina comigo funcionou perfeitamente, e tive a oportunidade de fazer o que bem quis e o fiz. Voltei a data em que o primeiro homem cercou um pedaço de terra e disse em voz alta isso é meu, você sabe meu amigo que nesse dia surgiu no mundo uma coisa chamada propriedade privada. Simplesmente tirei da cabeça dele essa idéia e deixei o mundo seguir, sem nenhum tipo de interferência, e fui observando. Olhei século a século e as pessoas estavam felizes desenvolvendo tecnologias necessárias para sobreviverem e compartilhado todas as maravilhas de nossa terra querida. Evoluíam seu modo de produção para atender as demandas cada vez maiores de uma população que crescia a olhos vistos. Claro que eles tinham seus problemas e suas discussões, isso é do próprio ser humano. Mas em nenhum momento alguém quis ter mais que outro, porque todos tinham suas necessidades atendidas pelo trabalho em conjunto. No fim escorreu uma lagrima do meu olho, então desliguei a maquina e tive a certeza de que estava certo. Dessa forma suas palavras não me assuntaram, eu já imaginava que suas conclusões seriam catastróficas”.
Não me segurei, sai de meu esconderijo, tinha que saber quem eram essas pessoas. Me aproximei e perguntei, quem são os distintos senhores? O senhor de barba me disse sorridente, sou Karl Marx, e o meu colega que chora abaixado logo ali é Adam Smith.

Do nada sinto uma vibração e tudo some, abro meus olhos e vejo minha mãe acordado-me para o trabalho. Tudo foi um sonho, o pior foi saber que vivo no mundo que não deu certo.

Bem-vindos queridos camaradas.

Para desespero dos capitalistas estou colocando meu blog na rede. Aqui pretendo divulgar muitos assuntos históricos e artigos que venha a escrever. Estarei também disponibilizando algumas resenhas e resumos de importantes textos históricos. Espero poder ajudar camaradas de profissão e alunos que admirem essa disciplina apaixonante. Um abraço a todos e boa viagem pela história.